Rádio no Brasil: 1970 a 2001

Anos 70 - O rádio AM, que era tido como "subversivo" em 1969, nos anos posteriores a 1974, quando a ditadura se afrouxou, através do governo Ernesto Geisel, passou a ser considerado como o rádio de "brega". Apesar disso, sua popularidade e credibilidade continuavam intatas e a juventude ainda ouvia as emissoras AM.
Edmo ZarifeEm 1970, o locutor Edmo Zarife (falecido em 1999, quando pertencia ao quadro de locutores da Globo AM / RJ) gravou a célebre vinheta "Brasil",
Edmo Zarife
Vinheta Brasilllll
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que até hoje é usada quando o Brasil vence em qualquer modalidade esportiva, seja futebol, tênis, Fórmula Um, vôlei, etc.. A princípio a vinheta era usada apenas para a Copa do Mundo do México, mas imediatamente ela se popularizou.
Paulo GiovanniLocutores como Paulo Giovanni, Paulo Barbosa e Paulo Lopes se tornariam os "paulos" de grande prestígio do rádio AM.
Nessa época se destacava também a então repórter do programa "Fantástico" (Rede Globo de Televisão), Cidinha Campos. Ela se consagrou, nos anos 70 e 80, como apresentadora do "Cidinha Livre", que incluía debates, variedades e até um quadro em que ela fazia críticas à Rede Globo, comentando seus programas.
O rádio FM ganhava força na segunda metade dos anos 70. Havia o perfil "rádio rock", de caráter experimental, feito pelas rádios Eldorado FM (vulgo Eldo Pop, RJ), e Excelsior FM (SP), e o perfil "pop eclético", predominantemente festivo, lançado pela Rádio Cidade (RJ), em 1977.
Entre os anos 60 e 70, uma emissora AM já abraçava o perfil rock, a Federal AM, do grupo de Adolpho Bloch (Manchete) que, ao acabar em 1974, mudando sua sede de Niterói para o Rio de Janeiro, virou Manchete AM.
O perfil popularesco, influenciado pelos programas de auditório (Chacrinha, Edson "Bolinha" Curi, Raul Gil, Silvio Santos), passava a ser formatado em FM, e uma das primeiras emissoras foi a 98 FM (RJ), que passou a ocupar o mesmo espaço da agonizante Eldo Pop.
Por sua vez a então rádio de rock Excelsior FM, conhecida como "A Máquina do Som", que teve entre seus profissionais o repórter Maurício Kubrusly, passou por diversas mudanças entre o pop convencional e o adulto contemporâneo, tendo se chamado Globo FM e Rádio X FM, até resultar hoje na CBN 90.5 de São Paulo.

Anos 80 / Primeira Metade - A princípio o rádio AM continua com popularidade similar a dos anos 70. Mas o rádio FM avança em popularidade crescente, sobretudo entre os jovens. A segmentação das FMs em estilos musicais diferentes começa a ser uma realidade, com rádios de adulto contemporâneo de diversos níveis, como o pop (que inclui música romântica e disco music) e o sofisticado (somente jazz, blues, soft rock e MPB), além da popularização das rádios de rock a partir da Fluminense FM (Niterói) e 97 FM (ABC paulista), entre outras.
Entre os anos de 1984 e 1989, o rádio carioca passava por uma ótima fase que, se não era 100%, era acima da média. A segmentação era seguida com a mínima decência possível, nenhuma FM parasitava o perfil do rádio AM, havia rádios de rock com linguagem realmente rock e repertório abrangente, rádios light com repertório light, e rádios pop que não conseguiam convencer com suas posturas pseudo-alternativas, o que lhes impedia de avançar na postura pseudo-roqueira. O rádio AM tinha sua audiência consolidada e sua programação diversificada.

Anos 80 / Segunda metade - O rádio AM, em 1985, sofre um duro golpe, tanto pelo esnobismo de adolescentes de classe média, que tinham preconceito a coisas antigas, quanto pela politicagem, através das concessões de Luiz Carlos Saroldirádio e TV promovidas pelo governo de José Sarney a todos aqueles que, políticos ou não, apoiavam o esquema de politicagem da direita brasileira. Assim, muitos donos de rádio FM, que não tinham competência para controlar rádio, acabaram por fazer expandir os arremedos de rádio AM nas FMs, acostumando mal a audiência a ouvir "rádio AM" diluído e em som de FM. Começaram as primeiras queixas sobre rádio AM, de que seu som é ruim pra baixo.
A Rádio Jornal do Brasil AM, ou apenas JB AM, do Rio de Janeiro, com sua programação dedicada à música adulta sofisticada e ao jornalismo, chegando a ter um programa de jazz apresentado pelo humorista (e conhecedor de música) Jô Soares, chegou a ter qualidade de estéreo, com sonoridade dolby e grande potência.

1990 / 2000 - Em 1990, entra no ar a Rede CBN de rádio, então restrita ao rádio AM. Duas afiliadas iniciam a rede, uma no Rio de Janeiro, outra em São Paulo. Em 1994 a CBN seria uma das pioneiras da "papagaiagem" eletrônica, com dupla transmissão em AM e FM em Brasília.
As emissoras de rádio AM começam a ser compradas por seitas religiosas das mais diversas, desde a Igreja Católica e a Igreja Universal do Reino de Deus até a mais obscura seita protestante.
A atitude romântica de determinados setores da intelectualidade reclamava o fim do "vitrolão" das FMs. Eles achavam que, com noticiário e esportes, acabaria a música ruim das FMs. Mas, na prática, ocorreu exatamente o contrário: as rádios apenas se segmentaram. Assim, as FMs classe A passaram a tocar até o mais brega da música norte-americana, as FMs de rock, além de tocarem também coisas mais melosas, importavam locutores que não encontravam vaga nas FMs de popularesco e pop internacional, e por aí vai.
Pior que isso é a "invasão AM" nas FMs de todo o país. As FMs com roupagem de AM passaram a adotar uma postura politicamente correta, contratando profissionais autênticos de AM ou mesmo retransmitindo alguns programas ou toda a programação de AM. Aqui entram os "papagaios eletrônicos".
Em 2000, o rádio AM sofre o auge da discriminação. Mesmo aqueles que regularmente ouviam AM migraram para as FMs. Até a revista esportiva Placar, do conservador grupo Abril, anunciou a "morte do rádio AM para as transmissões esportivas".
No Norte, Nordeste, Centro-Oeste e cidades interioranas, o sucateamento do AM chega a ser grosseiro e cruel.

2001 - Uma nova tecnologia pode surgir. Do contrário que pensam os poderosos, não é a tecnologia contra o rádio AM, mas a favor dele. É a tecnologia digital, que dará um som de qualidade à Amplitude Modulada. Chiados e "pipocamento" serão eliminados e o som será melhor que o FM. É prevista uma revolução radiofônica que pode reverter a migração da programação AM para as FMs, causando o processo inverso, e pode até atrair interesse de quem se recusava radicalmente a investir no rádio AM. Será um capítulo feliz para um espaço radiofônico popular e histórico que, em plenos anos 2000, chegou perto do fim por causa da discriminação extrema até de seus profissionais. Com o AM digital, um novo fôlego para o AM será enfim dado.

Alexandre Figueiredo

Comentários

  1. óóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóó (:

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