No Tempo em que Mídia era somente "Meio de Comunicação"

Beto Metri, 16/09/2009
Quero deixar que minhas lembranças venham livres
Não quero me preocupar com datas, nem com a ordem cronológica dos fatos. Quero somente recordar e fazer com que as pessoas que vierem a ler este texto, revivam, como eu vou fazer agora, os bons tempos, sem internet, sem vídeo games.
O Rádio e a TV eram companheiros de algumas horas do dia. Serviam de rumo para as conversas que tínhamos quando nos encontrávamos. Conversas de amigos, bate-papo de namorados. Sem essa de ter vergonha de assistir a determinados seriados ou programas. Tudo era permitido. Crianças e adolescentes se encontravam em frente à TV. Famílias se reuniam em torno do rádio para escutar as novelas da Rádio Nacional.
Jerôniimo, o herói do sertão, O anjo, O Cavaleiro da noite mexiam com nossa imaginação nos inícios de noite da Rádio Nacional. Como não existia a imagem, nossa imaginação é que dava o tom . A sonoplastia nos fazia viajar no meio de temporais, no arreio de um cavalo ligeiro, num carro que corria por uma estrada. Quase nos escondíamos debaixo da mesa quando ouvíamos o bem feito barulho de um trovão.
Luiz de CarvalhoComo hoje identificamos um ator ou atriz pela imagem, naquela época sabíamos bem quem era somente pela voz.
E a voz que nos conquistava era a do Luiz de Carvalho, nas manhãs na Rádio Globo, quando, desejando, saúde, paz e amor, comandava o Programa Luiz de Carvalho.
Haroldo de AndradePorém, quando ouvíamos os primeiros acordes do Concerto número 1 para piano e orquestra de Tchaikovsky, já sabíamos que o programa Haroldo de Andrade estava começando
A Rádio Tupi de São Paulo tinha o Barros de Alencar que, em meio aos sucessos brasileiros, intercalava suas gravações.
À tarde, na Rádio Globo escutávamos os sucessos apresentados por Roberto Muniz. As músicas eram colocadas em votação e, no Peça Bis ao Muniz, as mais votadas eram tocadas outra vez para nosso deleite.
Julio LouzadaE o Júlio Louzada? Quando caía a tarde, com a leitura da oração da Ave Maria e ao som da Ave Maria de Gunot, interrompíamos nossas brincadeiras, mamãe parava seus afazeres, papai até se ajoelhava. Julio Louzada era o companheiro obrigatório em nossa casa na hora do ângelus. Logo em seguida, ele começava a dar conselhos no programa que eu acho que se chamava “Pausa para Meditação”.
Era nesse momento que a criançada mais ficava ansiosa. Torcia para acabar a pausa para começar a ouvir as aventuras do Jerônimo ou do Anjo.
Heron DominguesNossos pais também acompanhavam as aventuras mas queriam mesmo era ouvir o Heron Domingues, no Repórter Esso, que depois passou a ser apresentado na TV. Gontijo Teodoro era quem nos dava o “boa noite”do alô, alô, Repórter Esso.
Mas a TV era muito mais do que o noticiário. Era a musa Neide Aparecida estalando os dedos e anunciando “To-ne-lux!”
A televisão era um luxo que nem todos podiam ter. A casa da vizinha era nossa sala de estar. E as televiszinhas eram nossos aparelhos. As janelas ficavam apinhadas de gente até a hora em que o dono da casa pedia desculpas e licença, pois estava na hora de dormir e ia desligar a TV e fechar as janelas.
Os aparelhos de rádio cobertos com toalhinhas de crochê, competiam com os pingüins em cima das geladeiras frigidaire ou hotpoint, na maioria das vezes ocupando lugar de destaque nas copas e salas de jantar.
Num canto, as enceradeiras com três escovas, vestidas com uma capa de “matéria plástica” enfeitada com laços e pregas, mantinham por muito tempo o perfume da cera que as empregadas passavam em toda a casa, esperavam secar, passavam as escovas da enceradeira e depois , com um escovão por cima de um pedaço de cobertor velho, davam brilho no assoalho até que ficasse como um espelho.
Ladeando as passadeiras de borracha, colocavam-se folhas de jornal para que ninguém deixasse marcas de pés e pegadas nos cantos por onde passasse.
No banheiro, cheirinho de sabonete eucalol. Escovas de dente, melhor só a TEK. Creme dental, tinha que ser Kolynos. (Ah!!!!!) Nos cabelos shampoo milk da Niasi era o melhor. Perfumes, só mesmo da Mirurgia. E as perucas Lady??? Outra vez, a Neide Aparecida.
Na TV, Neide ainda apresentava o Neide no país das maravilhas. Tinha também o teatrinho trol, onde Paulo Autran, Marília Pêra e muitos outros grandes também atuavam.
Jota Silvestre apresentava O Céu é o Limite. Eu me lembro bem da Micheline que respondia sobre o Egito e da noivinha da Pavuna. Como a gente torcia para que ninguém errasse as respostas!!!
No sábado era a vez de Bonanza, com a Família Cartwright defendendo a ordem e os bons costumes.
Depois, nos domingos, t]acompanhávamos o Homem de Virgínia,
Quando recomeçava a semana, a meninada esperava ansiosa:
- Alô, alô, Sumaré. Alô, alô, Embratel.Alô, Intelsat Quatro. Alô criançada do meu Brasil. Aqui quem fala é o Capitão Aza, comandante e chefe das forças armadas infantis do Brasil.
Com óculos escuros, capacete com um “A “ com asas, muitas medalhas no peito da farda, Capitão Aza aparecia cantando uma musiquinha que falava: “pela trilha da esperança eu vou cantando o amor e a paz, eu vou cantando o amor e a paz”.
Era tempo da ditadura militar. Mas , para a criançada que assistia a TV era divertido.
Ajudado por uma garotinha chamada Martinha e por um boneco a quem chamava Pedroca, Capitão Aza animava nossas tardes na TV Tupi com desenhos animados onde a violência não tinha vez.
Quando não era o Capião Aza, Tia Cidinha ,ou Tia Iara, comandava o Pullman Junior, duas vezes por semana no fim das tardes da extinta TV Rio. Enquanto a meninada comia bolos Pullman nos estúdios, Tia Cidinha fazia algumas brincadeiras, auxiliada pelos palhaços Torresmo e Pururuca,para depois a gente, em casa, assistir a muitos desenhos. Ainda não existia a novela das seis.
Também era muito emocionante acompanhar “Perdidos no espaço” com as aventuras da família Robinson vagando pelo espaço, enfrentando muitos perigos, seres de outros planetas e de outras galáxias, aterrissando em planetas cada vez mais distantes e diferentes da terra, cheios de monstros. Quando conseguiam fazer a nave funcionar, e já estavam quase voltando para a terra, acontecia outro imprevisto, outra pane e tudo voltava a ser como antes. E novos perigos eram enfrentados.
E as Aventuras Submarinas” com Mike Nelson, um oficial da marinha, vivido por Lloyd Bridges? Todos os dias era uma nova aventura e uma mensagem ecológica, sobre os oceanos, numa época em que a poluição e o efeito estufa ainda não eram tão evidentes.
Falando nisso, a gente se lembra também de “ Viagem ao fundo do mar,” a bordo do submarino Seaview, comandado pelo Almirante Nelson. A tripulação também viveu grandes e perigosas aventuras e nós, meninos e meninas da época, nos embrenhávamos até o mais profundo dos oceanos. Era nossa fantasia que nos levava a viajar mais e mais.
Enquanto isso, Roberto Carlos já comandava a Jovem Guarda, Flávio Cavalcante fazia o calouro tremer com seu corpo de jurados, formado por José Fernandes, Mister Eco, Sergio Bittencourt, Nelson Mota, Marisa Urban, Márcia de Windsor, dentre outros. Chacrinha comandava a massa e buzinava a moça. “Quem quer bacalhau?”gritava para a platéia que se acotovelava para ver Jerry Adriane , Wanderley Cardoso, Ronie Von , Nalva Aguiar, Leno e Lilian, Renato e Seus Blue Caps, e muitos outros.
Blota Junior brincava com cantores e compositores no”Essa Noite se Improvisa”.
Zorro, de capa e espada e Zorro do oeste americano eram atrações. Jim das Selvas e Daniel Boone levavam nossas fantasias para a Ásia e para o interior da América do Norte, National Kid era o nosso mais emocionante super-herói. Ele voava. Como voava também a nossa imaginação.
Há muito mais para recordar, mas fica para uma outra vez.
O coração está apertado de saudade. Mas muito feliz por saber que já presenciou tanta coisa boa , tanta coisa tão simples, mas que proporcionou muitas e grandes felicidades.
Dá até para contrariar o compositor:
Eu era feliz e sabia.

Fonte: Beto Metri, Palma e histórias

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