Caetano Veloso canta com os filhos em live de aniversário e é celebrado nas redes sociais


Caetano Veloso completa 78 anos e celebra com aguardada live durante a quarentena

Pedro Willmersdorf
O Globo, 7 de agosto de 2020

Com uma boca de cena formada por uma imensa estante recheada de livros - de Tarsila do Amaral a Tunga, CD's, fotos da irmã, Maria Bethania, e um raro vinil duplo de Tom Jobim, datado de 1987, Caetano Veloso, enfim, brindou seus fãs com sua aguardada live, realizada nesta sexta-feira (7), dia em que o baiano completou 78 anos.
Na sala de seu apartamento, em Ipanema, acompanhado pelos filhos, Moreno, Zeca e Tom Veloso, Caetano deu início aos festejos com todo o vigor que carrega a letra de "Milagres do povo". Os versos "Quem descobriu o Brasil?/ Foi o negro que viu a crueldade bem de frente/ E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente" falam por si.
Em seguida, no violão o aniversariante afiou suas garras com o hit "Tigresa", emendando com "Coisa acesa", de Fausto Nilo e Moraes Moreira. Caetano, aliás, dedicou a música a Davi e Ciça, filhos do grande amigo, morto em maio.

- Saudade de Moraes.
"Pardo" veio na sequência. A canção de Caetano foi registrada pela cantora Céu em seu último álbum, "APKÁ!" (2019), e, enfim, ganhou uma interpretação de seu autor, que, depois decidiu levar seu repertório para a ponte aérea.
Apoio aos povos indígenas
Com "Sampa", Caê fez sua homenagem a São Paulo, a quem diz ter "gratidão profunda".

- A letra da música fala em "dura poesia concreta de suas esquinas", porque lá existe poesia e há esquinas de concreto, mas a poesia concreta não é dura, não.
E para provar seu ponto, Caetano continuou a live musicando o poema "O pulsar", do paulistano Augusto de Campos.
Logo após "O homem velho", Caetano separou um espaço de sua apresentação para manifestar sua solidariedade aos povos indígenas brasileiros, duramente afetados pela pandemia de Covid-19.
Ao chamar atenção para a atuação da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), ele alertou para o drama sofrido por estas comunidades, alvos de racismo, ação de madeireiros e desmatamento desenfreado.

- Apoie a resistência dos povos ancestrais originários. O Brasil, além de não ter ministro da saúde, tem um ministério do meio ambiente que parece ser contra o meio ambiente. Situação muito grave que estamos enfrentando.
Na esteira, vieram os clássicos "Luz do sol", "Um índio" e "Cajuína", que fizeram a ponte com uma grata novidade: a faixa "Talvez", composição de Tom Veloso com Cezar Mendes, que foi gravada por Caetano e o filho. A faixa foi lançada nesta sexta-feira nas plataformas de streaming, como single.
Após uma aguardada performance de "Queixa", o aniversariante dividiu os vocais com Moreno, em "Sertão", composição feita a quatro mãos por pai e filho.
E do sertão, Caetano partiu para sua Bahia, suas memórias, Dona Canô e a irmã, Bethânia, com "Reconvexo". Para, logo depois, embrenhar por outras visões de Brasis, com "Nu com a minha música", dona de versos como "Quando eu cantar pra turba de Araçatuba, verei você/ Já em Barretos eu só via os operários do ABC/ Quando chegar em Americana, não sei o que vai ser".
'Somos músicos de família'
Após um intervalo, o retorno com o balanço de "Desde que o samba é samba", seguida de "Trilhos urbanos" e "Diamante verdadeiro". Chegando, enfim, à aguardada "Podres poderes", cantada a plenos pulmões pelo dono da festa.

- Não somos família de músicos, somos músicos de família. Ensaiamos só uma vez. Não dá pra chegar no nível do Gil. Ou do Tom Zé com suas posições, Milton naquela dimensão em que ele está - se derramou o baiano, transbordando modéstia.
Do consagrado álbum "Transa" veio "Nine out of ten", com "Qualquer coisa" e "Tá combinado" na sequência. Neste momento, então, Caetano abriu espaço para uma amostra de "Ofertório" (2018), álbum lançado por Caê em parceria com Moreno e Zeca, que assumiu o vocal da faixa e fez uma doce revelação.

- Foi minha mãe que pediu - soltou o rapaz, referindo-se a Paula Lavigne, que também é mãe de Tom.
Como introdução de "Odara", Caetano exaltou o trabalho do Balé Folclórico da Bahia, que está com uma campanha de vaquinha on-line como forma de amenizar os efeitos da pandemia de Covid-19.
Já "O leãozinho" teve um acompanhamento feito por Tom, com um leve assobio, o que arrancou um sorriso de surpresa do pai, acusando que o recurso "não tinha aparecido no ensaio".
Como (quase) encerramento, Caetano se desafiou ao cantar "Sozinho", faixa de Peninha que estourou nas paradas de sucesso sob sua assinatura, mas não era executada pelo baiano há muito tempo.
Mas numa festa de aniversário, claro, não poderia faltar bolo, vela e parabéns, um preâmbulo para o desfecho final, ao som de "How beautiful could a being be", com direito a dancinha de Caê e Moreno.
Como diz um trecho da música, "mete o pé e vai na fé". Talvez seja este o sentimento de esperança que este leonino genial tenha nos dado de presente com esta live.


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